1 ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE A MADEIRA
1.1 Introdução
A tendência contemporânea da relação entre nações está sendo caracterizada pela introdução do conceito da globalização econômica. Nela, entre outros aspectos, se experimenta a associação de países com interesses comuns para garantir a manutenção dos mercados e buscar sua expansão, num cenário fortemente marcado pela competitividade e, por conseguinte, pela inadiável necessidade de alcançar soluções inovadoras para os mais variados problemas.
No caso brasileiro, uma das alternativas mais promissoras para a abertura de novos mercados, bem como para o decorrente aumento da atividade econômica, é o incentivo ao desenvolvimento de políticas que envolvam o setor florestal, que tem contribuído de forma pouco expressiva na composição de nosso produto interno bruto.
Sintetizando o pensamento de diversos autores, OLIVEIRA [17] registra ser a atividade florestal uma das poucas que, com a utilização de métodos racionais de exploração, poderá conjugar a expansão econômica à conservação da qualidade da vida. Trata-se do chamado desenvolvimento sustentado, possível de ser proporcionado pelo setor florestal, não apenas através da produção direta da madeira e dos produtos dela derivados, mas também na geração de outros bens indispensáveis ao tão desejado equilíbrio ecológico. Tais bens poder ser exemplificados como a melhoria da qualidade do ar pela fixação do dióxido de carbono e pela liberação do oxigênio decorrentes da fotossíntese; a manutenção da biodiversidade com a preservação da fauna e da flora, associada ao conveniente manejo florestal
Relativamente aos recursos florestais naturais brasileiros, especial atenção deve ser dada à Floresta Amazônica, que ocupa uma área de aproximadamente 280 milhões de hectares (2,8 milhões de quilômetros quadrados) nas regiões norte e centro-oeste do país, abrangendo os estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, representando em torno de trinta e três por cento do território nacional.
A Floresta Amazônica tem reservas estimadas em 50 bilhões de metros cúbicos de madeira, distribuídos por mais de 4.000 espécies arbóreas, conforme o registro de REZENDE e NEVES [19]. Infelizmente, permanecem indícios evidentes de que sua exploração ainda é seletiva e predatória. As graves conseqüências se refletem nos quase vinte por cento da área original da Floresta Amazônica já devastados de modo praticamente irreversível, de acordo com os dados publicados em 1997 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE [14], entidade ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil. Algumas outras informações também são relevantes. BRUCE [2], em trabalho patrocinado pelo então IBDF (Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal) e pela FAO (Food and Agriculture Organization), destacou que, em 1975, apenas sete espécies tinham importância significativa no panorama brasileiro de comércio internacional, representando perto de noventa por cento do volume de madeira exportada: Cedro (Cedrella fissilis), Virola (Bagassa surinamensis), Mogno (Swietenia macrophylla), Andiroba (Carapa guianensis), Maçaranduba (Manilkara huberi), Assacu (Hura crepitans) e Jatobá (Hymenaea stilbocarpa). Em artigo publicado em 1991, afirma VANTOMME [22] que o Mogno e a Virola representaram, em 1988, respectivamente 47 e 21% do volume de madeira tropical exportada, sendo os restantes 315 provenientes de outras trinta espécies arbóreas.
Entretanto, há indicações de mudanças em curso. Ainda de acordo com o INPE [14], vem sendo observada uma diminuição na velocidade de desmatamento, na Floresta Amazônica. Entre os anos de 1978 e 1987 foram devastados, em média, 21.130 quilômetros quadrados por ano e, no período de 1988 a 1997, este número caiu para 16.777 quilômetros quadrados por ano, com valores mais animadores se considerados os números dos últimos três anos. Mesmo assim, é evidente que ainda são necessárias providências enérgicas para reduzir esta taxa, destacando-se:
incentivo à aplicação dos procedimentos de manejo florestal auto-sustentado;
divulgação das informações tecnológicas disponíveis a respeito de espécies alternativas de madeira caracterizadas pelos diversos institutos de pesquisa que se ocupam desta tarefa;
manutenção e incremento dos programas de pesquisa para caracterização de espécies nativas;
campanhas de conscientização a serem realizadas junto aos mercados nacional e internacional sobre a conveniência da substituição de espécies.
No que diz respeito às florestas plantadas, a opção prioritária brasileira envolveu dois gêneros: o Pinus e o Eucalyptus, visando a produção de madeira para suprir algumas necessidades particulares de utilização. É claro que os números que descrevem a disponibilidade de madeira de reflorestamento no Brasil são modestos se comparados aos de espécies nativas. Com o advento dos incentivos fiscais, permitindo que uma parcela do imposto de renda devido pelas empresas fosse aplicada em reflorestamento, houve reflexos imediatos na área plantada, sobretudo com espécies exóticas. Em 1967, eram 34 mil hectares; em 1987 eram 4,7 milhões de hectares, dos quais 54% de Eucalyptus, 30% de Pinus e 16% de outras espécies, conforme REZENDE e NEVES [19]. Informações contidas no Florestar Estatístico [12] dão conta que, no Estado de São Paulo, no ano de 1994, havia 950 mil hectares reflorestados, sendo 235 com Pinus e 700 mil com Eucalyptus. De acordo com estimativas do setor empresarial, o potencial de produção de Pinus, por exemplo, é algo em torno de 50 milhões de metros cúbicos para os próximos quinze anos.
Deve-se considerar, também, a produtividade volumétrica de madeira nas diferentes regiões do país, que varia entre 50 m³/ha/ano em áreas da Floresta Amazônica e 20 m³/ha/ano em áreas de reflorestamento no sul e no sudeste do país. Na Finlândia, nação cuja economia está fortemente alicerçada no desempenho do setor florestal, produz-se, em média, 5 m³/ha/ano. Nos Estados Unidos da América do Norte chega-se, no máximo, a 15 e, na África do Sul, a 18. Sem dúvida, são números que expressam a vocação florestal do Brasil. Sua importância é ainda maior num momento histórico onde, mais do que a conscientização do nosso potencial, é preciso o convencimento de que utilizá-lo inteligentemente não é uma utopia inalcançável mas, sim, uma necessidade inadiável.
1.2. Considerações preliminares a respeito do emprego estrutural da madeira
No Brasil, a madeira é empregada, com freqüência, para fins estruturais, na solução de problemas relacionados a coberturas (residenciais, comerciais, industriais), cimbramentos (para estruturas de concreto armado e protendido), travessia de obstáculos (pontes, viadutos, passarelas para pedestres), armazenamento (silos verticais e horizontais), linhas de transmissão (energia elétrica, telefonia), benfeitorias rurais, entre outros.
Tal emprego vem se mantendo crescente, apesar dos conhecidos preconceitos inerentes à madeira, sempre relacionados à insuficiente divulgação das informações já projetos específicos, desenvolvidos por profissionais habilitados. Tem sido o usual, mas não é disponíveis acerca de seu comportamento sob as diferentes condições de serviço e à falta de o ideal, que as estruturas de madeira sejam concebidas por carpinteiros, muitas vezes bem intencionados, mas não preparados para esta tarefa. Os problemas daí decorrentes incentivam a formação de uma mentalidade distorcida por parte dos usuários. São muito comuns estruturas de madeira construídas deste modo, contaminadas pelo menosprezo ao material e pela inexistência de projeto. Ao mesmo tempo, outras idéias errôneas são divulgadas, como a que associa o uso da madeira à devastação de florestas, fazendo parecer que o referido uso se constitui numa perigosa ameaça ecológica. Não está sendo defendida, aqui, a exploração irracional e predatória. O que se almeja é a aplicação de um manejo silvicultural inteligente, fundamentado em técnicas há muito tempo dominadas por engenheiros florestais e profissionais de áreas correlatas, que poderá garantir a perenidade de nossas reservas florestais. Trata-se de procedimento largamente difundido nos chamados países de primeiro mundo, conforme citação de GESUALDO [8].
É importante ser lembrado, também, que o crescimento, a extração e o desdobro de árvores envolvem baixo consumo de energia, além de não provocarem prejuízo ao meio ambiente, desde que providenciada a respectiva reposição. Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto armado, são produzidos por processos altamente poluentes, antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. O Contrário se verifica com a madeira, que se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas.